Quero, em primeiro lugar, me desculpar oficialmente com você, caso seu nome seja Karen. Deve ter levado um sustão.
Mas calma, já vou te contar quem é essa Karen do título.
Certa vez ouvi de minha antiga terapeuta que eu era uma general comigo mesma. Eu podia empatizar até com as mais vilanescas das pessoas — mas não comigo. Comigo a general entrava em ação. Como você pôde falar isso? Agora todo mundo tá te julgando. E esse texto? Que merda de texto. Você quebrou uma taça? Desastrada!
Quando ouvi isso, a primeira coisa que falei foi:
— Preciso parar de ser general comigo mesma!
A terapeuta riu, porque eu imediatamente caí no mesmo padrão: o de me cobrar. Sim, minha general interna é bem tóxica.
Já se passaram vários anos desse episódio e eu acho — espero — que melhorei. Eu tento ser mais gentil comigo mesma, me perdoar, relevar algumas coisas.
Só que fazia bastante tempo que eu não pegava um livro pra escrever. A última vez foi em 2017, oito anos atrás. Desde então muita coisa mudou, eu casei, adotei gatos, joguei 1000 horas de Baldur’s Gate 3. E sabe quem mudou também? A general, é claro.
Agora, sei lá por quê, ela era uma baita duma Karen. Sabe uma Karen? Estadunidense, classe média, branca, exigente, preconceituosa e prepotente? Acha que o mundo gira ao redor dela?
Pois é. É essa Karen que aparece quando eu tô concentradíssima, tentando escrever meu primeiro rascunho (se você leu a edição passada da minha newsletter, sabe do que eu estou falando. Se não leu, clica aqui!). E ela é insuportável.
Se eu fosse você deletava esse parágrafo e escrevia do zero. Você vai usar essa palavra? Por que não joga fora essa ideia e pensa em uma melhor?
Sabe o que a gente faz com uma Karen? A gente manda ela calar a boca. Em voz alta. De preferência com raiva, num gritão. E aí volta a escrever.
Meio assim:
Agora que cheguei ao final do texto comecei a refletir: por que diabos eu tô falando disso na newsletter? Quem é que se importa? Se eu fosse você deletava esse…
CALA A BOCA, KAREN.
Se não for assim, a merda do primeiro rascunho nunca vai terminar. E aí a gente vai fazer o quê? Viver a vida entre rascunhos, ideias e projetos não finalizados porque um crítico interno ficou enfiando lorota na nossa cabeça?
Não, obrigada.
Se você leu até aqui, vou te deixar uma perguntinha:
Se nossas memórias definem quem somos, até onde podemos apagá-las sem deixar de existir?
Na próxima edição da news eu te falo um pouquinho mais sobre meu próximo projeto!
Até lá?
Um abraço.